Tem 137 quartos, restaurante, bar, recepção 24 horas, jardim, terraço, elevador, sauna, piscinas interior e exterior e tudo aquilo de que um hotel de quatro estrelas, em Tavira, no Algarve, precisa para captar clientes. O Hotel Porta Nova, do grupo Varandoteis (com a nova marca MGE Hotels) está à venda, num site inglês, por 17,5 milhões de euros, numa operação que não será tão “estranha” quanto comum.
“O que é que não está à venda, no mundo empresarial?”, analisa Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), que garante haver “muitos mais casos idênticos” na região. “Nesta conjuntura, há uma maior disponibilidade das empresas hoteleiras para abdicar da propriedade de um hotel e mais disponibilidade das empresas financeiras para investir no negócio, dependendo das condições”, refere.
A consultora de imobiliário Worx acabou de lançar o estudo relativo à hotelaria nacional em 2012, onde aponta que “à semelhança de diversas cadeias hoteleiras internacionais, também os grupos portugueses iniciaram uma tendência de dissociação entre propriedade e gestão”, como forma de enfrentar a “queda considerável na procura interna e no mercado espanhol”.
Os dados preliminares do INE, anunciados esta semana, confirmam uma quebra de 7,2% nas dormidas dos residentes e de 10,5% dos espanhóis em 2012.
O referido estudo da Worx indica, ainda, que ainda no primeiro semestre deste ano, vão abrir mais dois grandes hotéis na região (Vidamar Resorts Algarve e Epic Sana Algarve Hotel, ambos de cinco estrelas e em Albufeira) que acrescentarão quase 500 quartos à oferta atual. A sustentabilidade deste crescimento na oferta hoteleira será objeto do próximo estudo da consultora.
“Não me preocupa tanto a abertura de novos hotéis ou a sustentabilidade dos que estão a funcionar, como a perda da competitividade devido aos diversos fatores que são conhecidos: a carga fiscal elevada, os custos de contexto (também municipais) ou a promoção turística insuficiente ou desajustada”, enumera Elidérico Viegas. Opresidente da AHETAestá, até, convencido que “poderá ser bom para a economia portuguesa que haja investimentos de cadeias hoteleiras internacionais no país”, uma vez que podem “potenciar a procura e a ocupação por parte de estrangeiros”.
As quase 108 mil camas oficiais do turismo do Algarve, em 2012, encontraram rentabilidade (em média), mas a sazonalidade dificulta a gestão dos hotéis: a ocupação média variou entre os 74,5% no mês de agosto e os 14,7% em dezembro. Muitos hotéis fecharam para o inverno e o Governo lançou, em outubro passado, o Programa Formação Algarve – uma medida que permitiria aos hotéis (entre outras atividades económicas) não despedir pessoal, ocupando-os em formação co-financiada até 70% pelo Estado. Correu mal: só 220 dos 2000 beneficiários previstos estão a ser apoiados.
“Foi aprovada demasiado tarde para o planeamento que as empresas têm de fazer, só dura até junho, não tem perspetivas de futuro e penaliza as empresas com encargos sociais inclusive sobre o montante que é financiado pelo Estado. Estava planeado o insucesso”, comenta Elidérico Viegas.
O desemprego no Algarve ultrapassa os 19,7% oficiais, segundo os sindicatos, e a hotelaria é responsável por parte desse flagelo. “Temos conhecimento de processos de insolvência em três campos de golfe (Quinta do Vale, em Castro Marim, Parque da Floresta, em Vila do Bispo e Centro Desportivo de Vale do Lobo (Barringtons), mas o pior é o «lay off» em que o Sheraton Algarve colocou 80 trabalhadores”, denuncia Tiago Jacinto, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria do Sul. “Pedimos um relatório sobre a situação, uma vez que temos dúvidas do ponto de vista económico, quando há dois meses anunciaram um investimento de 200 milhões de euros em Loulé”, revelou ao Dinheiro Vivo.
Porém, a United Investments Portugal, empresa proprietária do Sheraton Algarve, e a Starwood Hotels & Resorts, operadora do resort, garante que todos os envolvidos no processo aceitaram bem a decisão. Em resposta ao Dinheiro Vivo, referem que “decidiram, por comum acordo, encerrar a unidade do hotel e alguns dos outlets, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2013, em consequência do aumento da sazonalidade na região e da recessão económica global que afeta também os mercados emissores”. O “funcionamento da unidade hoteleira será retomado em março, altura em que a totalidade dos membros da equipa regressa ao trabalho”.
Elidérico Viegas desconhece “outros casos de «lay off» na hotelaria, pois é de muito difícil aplicação no turismo e só uma multinacional como o Sheraton consegue recorrer a essa solução”.
Fonte: Dinheiro Vivo
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