17 novembro 2013

Christie's já está a "vender" o Norte


Abriu em Outubro e, no próximo ano, quer atingir os 100 milhões de euros.

Neste momento, a propriedade mais cara à espera de novos donos custa 8,5 milhões. Da lista de clientes sobressai o grupo oriundo de Angola - que em nada se deixou afectar pela deterioração das relações institucionais entre os dois países.



Num mercado onde as falências são o triste modo de vida que espera uma parte substancial dos operadores, a marca da leiloeira Christie’s para o segmento imobiliário, que evolui sob chancela da Luximo’s, acaba de abrir um escritório no Porto – já tinha um em Lisboa (para a capital e para o Alentejo). O “artigo” mais caro em venda neste momento é uma propriedade – que a imobiliária não diz qual é nem onde fica – que está na praça por 8,5 milhões de euros, mas da lista que é possível conhecer constam muitas outras preciosidades que não devem ficar muito tempo sem licitação.

Andreia Silva, uma das responsáveis pelo escritório juntamente com Ricardo Alves Costa, revela que a nova agência resulta de um convite directo da própria Christie’s: “É assim que funciona sempre”, afirma, para concluir que esta forma de operar permite à multinacional escolher “os melhores em cada mercado”. É também a própria Christie’s que estabelece as fronteiras entre cada operadora que leva a sua marca distintiva: “Trabalhamos o mercado do Norte de Aveiro para cima”, refere aquela responsável – para explicar que as duas imobiliárias nacionais da Luximo’s “não têm nada a ver uma com a outra, nem em termos de mercados onde operam nem de accionistas”.

CEM MILHÕES EM PERSPETIVA Entre o convite e a abertura do escritório do Porto – no início de Outubro – foi necessário cumprir uma série de formalidades “que são sempre demoradas”, mas que permitiram que, quando se deu a inauguração, tudo estivesse preparado.

Segundo Andreia Silva, “no próximo ano queremos atingir um volume de negócios de 100 milhões de euros” – de onde se compreende que os preços praticados têm apenas a ver com o segmento mais elevado do mercado. Não é, neste quadro, de admirar que um dos principais grupos de clientes da nova operadora seja composto por cidadãos oriundos de Angola. “Não sentimos qualquer crise nesse segmento” que possa ter resultado da recente deterioração das relações institucionais entre Portugal e Angola, revela Andreia Silva.

Para já, o interesse mantém-se e está vocacionado para os apartamentos de luxo prontos a estrear e que assumam uma postura arquitectónica de revelo. “Os angolanos não costumam procurar habitações antigas”, revela. Esse segmento fica para os gostos dos clientes oriundos da Europa – que não resistem à patine dos granitos e das madeiras exóticas finamente trabalhadas.

TRABALHAR EM REDE Uma das mais-valias que a Christie’s oferece aos seus clientes “é um verdadeiro trabalho em rede, só possível porque a marca opera debaixo da mesma lógica em vários mercados mundiais”.

No universo da Christie’s há, por isso, uma figura denominada “partilha cliente” – e que permite a um interessado contar com a experiência de toda a rede. A “partilha” funciona em duas vias distintas: “Há a figura de ‘partilha cliente’ vendedor, que é alguém que pretende vender uma propriedade a investidores estrangeiros; e a ‘partilha cliente’ comprador, que são clientes nacionais que, por exemplo, estão à procura de uma casa ou de um apartamento em Londres. Accionamos a rede da Christie’s e os nossos escritórios em Londres – profundos conhecedores do terreno – procuram o que o nosso cliente quer”, explica Andreia Silva.

É com esta envolvência que os números apontados pela multinacional acabam por parecer naturais: os 1050 escritórios espalhados por 46 países permitiram à operadora atingir, em 2012, um “aparatoso” volume de negócios de 58 mil milhões de euros. No caso português, e além dos apartamentos e casas de luxo no Porto, o alvo preferencial das operações imobiliárias será também as quintas no Douro e as propriedades em zonas que aliem o conforto e a exclusividade à segurança – Ponte de Lima, Gerês, etc. Neste segmento “não-citadino”, e além dos investidores europeus, a imobiliária conta despertar interesses no Brasil, China e Estados Unidos.

Em Portugal há ainda espaço para um terceiro escritório que esteja interessado em trabalhar o imobiliário no Algarve. Mas na região Sul assiste-se há já vários anos a algum “engarrafamento” no que diz respeito ao imobiliário de luxo – que resultou da construção ao longo das últimas décadas de alguns empreendimentos de grande prestígio internacional. De qualquer modo, e como a entrada de um novo escritório na rede Christie’s só se dá por convite, é possível que para já não se venham a registar novas aberturas em Portugal.

Além da propriedade que, incógnita, custa 8,5 milhões de euros, é possível encontrar no site da operadora uma série de apartamentos no Porto a custar quase sempre acima do milhão de euros e várias propriedades “rurais-agrícolas” que ultrapassam aquele valor com alguma facilidade. Daqui se concluiu que, ao contrário do Sol, a crise imobiliária, quando aparece, não é para todos.

Fonte: Diário Económico

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