13 março 2015

“Lei do Arrendamento mudou perfil de Lisboa”


Pedro Lancastre, o diretor geral da consultora Jones Lang LaSalle (JLL) fala com grande entusiasmo de Lisboa e do potencial que a cidade tem. Hoje a cidade é procurada por grandes investidores internacionais, está no radar dos grandes promotores e é destino para residência de europeus e asiáticos. Há novos recordes no residencial em zonas prime. O gestor diz que a cidade é quase um resort. Está longe da saturação e o valor está a crescer. A área de investimento imobiliário comercial e a atividade da Tétris na parte de design e fit-out são os grandes drivers da JLL para 2015. O objetivo está traçado: crescer mais de 30%.


Ao que é que se pode resumir este entusiasmo por Lisboa?
Não se pode resumir a uma razão. Foi uma mudança bastante rápida. Possivelmente a principal razão foi a mudança da lei do arrendamento. Lisboa é uma cidade linda, com uma luz fantástica. É uma capital europeia, é uma cidade com uma grande mistura arquitetónica, edifícios históricos e modernos. Houve uma altura em que se demoliram edifícios e palácios bonitos para se construírem coisas pavorosas. Tudo o que era antigo estava congelado, não se podia fazer nada com a lei que estava em vigor e que ninguém tinha coragem para alterar por questões políticas, não permitindo que houvesse reabilitação.
O Governo pode ter o mérito que tem, mas foi a troika que nos governou durante três anos e em parte ainda nos governa. A questão da dívida privada foi um dos seus “cavalos de batalha”. Essa dívida privada está preferencialmente alocada à compra de casa e ao incentivo para que isso acontecesse. A troika concluiu não existir mercado de arrendamento devido ao congelamento das rendas e à consequente inexistência de oferta.
A grande alteração foi a lei do Arrendamento. Hoje, consegue-se comprar edifícios devolutos ou com inquilinos e já se sabe previamente que condições se podem negociar com esses mesmos inquilinos. Conjuga-se com uma recuperação na Europa, e com uma nova dinâmica que conhece o país. Os chineses, os franceses e os russos não conheciam Portugal. Quando aterram em Portugal concluem que é uma capital fantástica e, facilmente concluem que este é um país onde é possível investir e trabalhar. Arriscando o exagero, devo dizer que é preciso erigir uma estátua para alguém que conseguiu atingir estes objetivos num período importantíssimo para a economia do país.
Voltou a olhar-se para Portugal quando houve uma grande operação de investimento, caso da Deka Immobilien, na Parque Expo. Ora se os alemães voltaram a comprar e gastaram 50 milhões de euros – uma operação que até saiu no FT, não foi um grande montante mas teve um significado gigantesco -, outros quiseram fazer o mesmo. Recentemente foram os edifícios da EDP.
Se lançássemos agora aqueles edifícios seria com um preço acima e teríamos mais de 10 ofertas. Há um ano a EDP conseguiu vender a um fundo norte-americano, mas não havia muitos mais interessados. Os americanos fizeram uma excelente aquisição, e se o quisessem vender hoje receberiam muitas ofertas e a preços superior.

A cidade também está a receber muitos prémios internacionais a nível de hotelaria e acaba por se ligar ao imobiliário. Faz um conjunto que casa bem?
Totalmente de acordo. É uma cidade “trending” para se visitar, para o “short break” de fim de semana, para se viver e para se investir. Os franceses estão encantados, quer investidores, quer residentes finais. Lisboa quando comparada com outras cidades ganha em todas vertentes. Os estrangeiros questionam se existe alguma cidade tão boa como Lisboa, isto é como viver quase num resort.
Lisboa tem uma qualidade de vida em termos de custos que não se compara com outras cidades. Dublin é 40% mais cara e Madrid é 25%. Em termos médios e para um cabaz alargado o custo de viver em Lisboa é 30 a 40% mais baixo do que em outras cidades europeias. Acresce as praias à porta da cidade, a segurança e ainda uma cidade com edifícios a necessitar de reabilitação conjugado com investidores com vontade de trabalhar. Há ainda a expectativa de quem tem morado fora de Lisboa poder voltar para o núcleo da cidade. Quando houver mercado de arrendamento, voltarão. Lisboa já teve 1 milhão de habitantes e tem hoje 550 mil, mas tem capacidade para voltar a ter de novo 1 milhão.
O meu entusiasmo deve-se ao acreditar na cidade. Há que se assuste porque tudo acontece muito rápido e os preços em determinados nichos de mercado subiram muito rapidamente. E perguntam se há alguma “bolha”.

Acredita não haver “bolha” na vertente residencial na Av. da Liberdade e perpendiculares?
Continua a haver mais procura do que oferta. Nos próximos dois, três anos será lançada muita reabilitação na zona prime de Lisboa. E quando houver quantidade é que se perceberá os reais preços da cidade. Hoje como há poucos imóveis, os valores vão aos 7 mil euros/m2. E com este preço tem-se feito operações.

Esta foi a razão que levou a JLL a avançar para o setor residencial?
Claro. Faz todo o sentido numa empresa como a JLL que tem uma plataforma imobiliária e de serviços mundial e onde é forte no residencial, e quando em Portugal o tema volta a estar na ordem do dia, não apenas para turistas ou para os ingleses e irlandeses a comprarem segunda habitação, mas para chineses e franceses a procurarem residência permanente. Friso: faz todo o sentido darmos resposta a esse mercado.

Conjuga-se com o crescimento da Tétris?
Não. A Tétris está totalmente vocacionada para o design e “fit-out” de interiores de lojas, comércio, serviços, ginásios, hotéis, tudo menos residencial. O cliente normal Tétris é institucional. A Tétris tem mais a ver com o crescimento do retalho e com o crescimento que nós acreditamos que irá acontecer nos escritórios. Esta parte do residencial tem mais a ver com um serviço completo que podemos dar aos nossos clientes. Digo isto porque voltaram a existir novamente muitos projetos de reabilitação em Portugal muito dirigidos à habitação. Estamos a aconselhar os clientes e a acompanhá-los na gestão da obra. Logo, ao estarmos na obra, também conseguimos vender o apartamento. Fechamos o ciclo.

A nível internacional que trabalho estão a fazer em Angola e Moçambique?
Para África temos uma plataforma localizada na África do Sul. Temos uma parceria em Angola e outra em Moçambique, logo são países onde a JLL não tem bandeira. Quando nos pedem opinião, dizemos que a melhor empresa para prestar serviços em Angola é a Abacus Angola e para Moçambique é a REC.

Quais os objetivos para as várias áreas de negócio em 2015?
Penso que será mais um ano muito bom de investimento, de grande transações, e será também um ano bom de Tétris. Estamos com 20 obras a decorrer e muitos convites. Será também o ano de lançamento do residencial e que não demorará muito tempo a ganhar. Fomos buscar a Patricia Barão à ES Property, uma entidade muito forte na reabilitação.
Todas as áreas de negócios bateram recordes e para este ano esperamos o mesmo.

A JLL depende da região EMEA e cuja sede está em Londres. Que visão tem a gestão da operação em Portugal?
Têm uma excelente opinião e foi por isso que nos apoiaram na aquisição da Novo Interior. Consideram que construímos uma base muito sólida para voltar a crescer com sustentabilidade.

Qual o objetivo de crescimento de vendas de serviços em 2015 versus 2014?
Vamos, pelo menos, crescer mais 30%. Esta confiança da estrutura internacional em Portugal radica no facto de termos sido um dos escritórios mais rentáveis em toda a região. Isto também levou a que se marcasse a reunião anual dos diretores gerais em Lisboa, para junho.

Fonte: OJE

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