Para que a capital possa recuperar a população perdida em 30 anos, a autarquia de Lisboa defende que é preciso disponibilizar casas acessíveis à classe média, o que exigirá reduzir o custo de habitação.
A ideia foi defendida por Manuel Salgado, Vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, durante o debate “Como ajustar o preço da habitação ao rendimento das famílias”, integrado no ciclo “ Portugal 2030”, promovido pela revista “Frontline” e realizado a 19 de junho, no Hotel Tiara, em Lisboa.
“Temos atualmente cerca de 23.000 fogos de habitação social em Lisboa e existe também uma oferta habitacional bastante diversificada e completa para as classes de rendimentos elevados, mas falta dar resposta à fatia do meio. É essa que faz falta à cidade”, sublinha o autarca. Para Manuel Salgado, uma das formas de atrair esta população para Lisboa, uma cidade que atingiu um pico de 800 mil habitantes nos anos 80 e que no espaço de 30 anos perdeu 30% desses habitantes, passa por fomentar a reabilitação urbana e o arrendamento, no quadro de um novo modelo de desenvolvimento imobiliário. Mas isso só não basta. “Se habitarmos tudo o que está atualmente devoluto em Lisboa, podemos ter mais 40 mil habitantes”, começa por explicar Manuel Salgado. “Mas se queremos voltar a níveis de 700 mil habitantes, isso implicará construção nova”. E acima de tudo, sublinha Manuel Salgado, “é preciso ter casas acessíveis para quem é efetivamente necessário termos no centro das cidades”, pelo que, na sua perspetiva, “é preciso intervir no custo da habitação” e “encontrar-se soluções para que o custo de habitação para a classe média em Lisboa seja reduzido”.
Uma das formas de o fazer poderia ser através da “redução de áreas” das casas, uma ideia pela qual Fernando Santo, Administrador Delegado do Montepio – Gestão de Ativos Imobiliários e o outro interveniente neste debate, também alinha. “Temos que pensar se necessitamos do mesmo tipo de casas do que anteriormente. Não deveríamos falar mais em tipologias, mas em áreas, como acontece nos escritórios. E cada família adaptaria depois o espaço às suas necessidades. Deveríamos vender as casas pelas áreas e não estar amarrados a processos antigos”, considera Fernando Santo.
Outra linha de atuação poderia passar pela “criação de programas de utilização de terrenos municipais para lançar habitação a custos controlados, mas disponibilizadas ao mercado de arrendamento”, defendeu Manuel Salgado, até porque o mercado de arrendamento é o que melhor responde à nova realidade social e económica, Conforme explicou explicou, por seu turno, Fernando Santo, com o modelo que vigorou nos últimos 30 anos em Portugal – em que se apostou nos incentivos à compra de casa -, “a habitação tornou-se numa prisão, numa altura em que muito queremos liberdade. Mesmo com os elevados níveis de desemprego, e um número maior de divórcios, as pessoas ficam presas às casas porque as compraram”. Por isso mesmo, “com todas a alterações sociais e económicas, a reabilitação urbana e o arrendamento devem ser um novo modelo de desenvolvimento”.
Da parte da Câmara, estão “criadas condições para atrair a classe média” e, sobretudo, os jovens. “Fizemos investimentos em espaço público e equipamentos, que permitem atrair jovens. E além disso também ajudamos a criar mais emprego na cidade. Só falta mesmo a habitação, porque as restantes condições estão reunidas”, considera Manuel Salgado.
Para Fernando Santo é preciso, contudo, ter em atenção a diversidade social. “É preciso apostar num conceito de bairro que considere a coesão social. Aproveitar os edifícios, simplificar e permitir que cada um possa remodelar a sua casa de acordo com o seu rendimento, de forma a que todas as classe sociais possam conviver numa mesma rua”.
Estrangeiros responsáveis por 15% das transações em Lisboa
De acordo com o Vereador Manuel Salgado, cerca de 15% das transações imobiliárias em Lisboa são atualmente feitas por estrangeiros e este movimento acabou, na sua opinião, por “inflacionar os preços já este ano”. “O município de Lisboa tem direito de preferência em grande parte dos negócios e, por isso, temos ideia do valor das transações”, explica o autarca, avançando que este ano os preços subiram para cerca de 1.800 euros por metro quadrado na capital, face aos 1.700 euros registados em 2013, este último um valor que resultava de uma queda sentida ao longos dos últimos anos. Para Manuel Salgado, estas podem ser boas noticias para o mercado imobiliário, mas a cidade precisa de mais. “Todos os dias temos investidores estrangeiros a procurar imóveis para reabilitar”, mas a questão é que os produtos imobiliários daí resultantes não serão ajustados, em termos de preço, ao público que a cidade necessidade de captar para recuperar habitantes de forma sustentável.
Para Fernando Santo, de facto, “há o problema de como é que e conseguimos conciliar o objetivo de trazer a classe média para a cidade com a rentabilidade para o negócio imobiliário”. De uma coisa, o engenheiro tem a certeza: “Com o modelo anterior isso não foi possível e esse modelo já não é ajustado à realidade atual”. Contudo, o responsável está confiante, de que “já há sinais positivos no que se refere à inversão desta lógica do modelo dos últimos 30 anos”. Nos centros urbanos, até aos anos 70, cerca de 70% dos portugueses vivia em casas arrendadas, nos últimos 30 anos, essa lógica inverteu-se e atualmente mais de 70% das pessoas são proprietários de casas próprias. A questão é saber se é possível voltar a inverter este modelo.
Fonte: Público
0 comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.